Antes de mais nada, preciso de partilhar convosco que o blogue vai ficar em interregno. A falta de tempo, bem como a saúde emocional bastante abalada face à hediondez do que se está a passar actualmente, impede-me de conseguir escrever e desenvolver o que quer que seja. Prometo regressar quando o coração estiver mais calmo mas, de momento, não estou mesmo em condições para fazer publicações. No entanto, não desistam de mim e do blogue: apesar de pausado, não ficará eternamente parado.
Posto isto, anuncio que criei um canal no WhatsApp: funcionará como uma espécie de newsletter, algo que sempre esteve em falta, pelo que ficará muito mais prático acompanhar o blogue já que, assim, receberão notificações quando um artigo novo for lançado. Basta entrar no canal e seguir:
Obrigada por continuarem desse lado. Até breve 🤍
Quando idealizei o blogue, há uns bons anos, a intenção primeira era partilhar textos de cariz mais teórico sobre direitos dos animais. Sempre senti que esta esfera é bastante esquecida e que merece ser um pouco mais trabalhada por, a meu ver, ser onde começa toda a acção de sensibilização e informação – e, além disso, enriquece e fortalece bastante a componente prática da causa em questão.
Involuntariamente desviei-me do principal objectivo do blogue pelo que, depois de algum descanso mental e reajustamento de prioridades, decidi criar os Rascunhos Antiespecistas, uma rubrica especialmente dedicada a conteúdo teórico sobre tudo o que esteja ligado a ética animal. Nela encontrarão:
– Textos filosóficos sobre ética animal;
– Traduções de artigos científicos sobre senciência e emoções nos animais;
– Artigos sobre antiespecismo interseccional.
Para terem uma ideia do tipo de textos que irão compor esta rubrica, espreitem:
Além desta rubrica, irei passar a apresentar documentários e livros sobre direitos dos animais, com o intuito de enriquecer ainda mais toda esta temática.
Não basta querer combater o especismo: é vital desconstruí-lo e isso envolve mergulhar em mares revoltos e desconfortáveis, mas que ajudam a despertar a nossa consciência para a relação que estabelecemos com os animais – e como a mesma é terrivelmente injusta, cruel e alimenta outras tantas opressões sociais. Com esta rubrica pretendo, além de regressar ao estilo de escrita que mais gosto, convidar, a quem tiver interesse, a uma reflexão mais profunda sobre a luta antiespecista e tudo o que a ela está interligado. Tenho vários assuntos que desejo desenvolver mas que necessitam de ser estudados com calma, o que tornará o desenrolar desta rubrica demorado – todavia, com o coração tranquilo, valerá muito mais a pena ♥
imagem: @call.me.cliff
Não basta querer combater o especismo: é vital desconstruí-lo e isso envolve mergulhar em mares revoltos e desconfortáveis, mas que ajudam a despertar a nossa consciência para a relação que estabelecemos com os animais – e como a mesma é terrivelmente injusta, cruel e alimenta outras tantas opressões sociais. Com esta rubrica pretendo, além de regressar ao estilo de escrita que mais gosto, convidar, a quem tiver interesse, a uma reflexão mais profunda sobre a luta antiespecista e tudo o que a ela está interligado. Tenho vários assuntos que desejo desenvolver mas que necessitam de ser estudados com calma, o que tornará o desenrolar desta rubrica demorado – todavia, com o coração tranquilo, valerá muito mais a pena ♥
imagem: @call.me.cliff
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Pois é. O desenrolar da vida é uma montanha-russa repleta de metamorfoses que nos levam a redefinir as nossas prioridades. É um tecer de casulo que começa por ser confuso, até mesmo doloroso. Muitos novelos amontoam-se na cabeça e embrulham-nos o estômago com a sensação de um vazio que teima em invadir o nosso âmago quando mudanças abruptas surgem, qual turbilhão que se forma sem qualquer aviso. Mas quando abraçamos esta tempestade que, inicialmente, nos magoa, a calma irrompe e abraça-nos de volta. E que bom nos apercebermos que é dessa calma que precisamos, em vez de contra ela lutarmos.
Desde 2021 que me mentalizei que ia deixar de conseguir escrever no blogue com frequência. Foi assoberbante reconhecê-lo, já que esta minha casinha digital, a escrita e a causa animal são-me ternamente importantes. Ainda tentei equilibrar todos os pratos que já tinha e os novos que repentinamente se empilharam, mas a saúde mental começou a vergar, perigosamente, com tanto peso. E, antes que a mesma se estilhaçasse, eu própria deixei que alguns desses pratos caíssem.
Neste caso, as redes sociais.
Decidi sair do Instagram. As exigências da transmutação bonita (e também bastante caótica, mas sobretudo bonita) que ocorreu no meu quotidiano mostraram-se incompatíveis com o ritmo imposto pelas redes sociais: um ritmo sufocante, que me pressionava a criar conteúdo mesmo estando sem ideias, disposição e, principalmente, tempo.
Desacelerar era vital. No entanto, quando ficava alguns dias sem publicar, a punição revelava-se severa: tanto era o algoritmo que me invisibilizava, cortando o alcance do meu trabalho, como as próprias seguidoras não perdoavam e paravam imediatamente de o ser. Então, na tentativa impossível de equilibrar todos os tais pratos, negligenciei o blogue.
E negligenciei-me a mim.
Sentia que precisava de aplicar uma dedicação ao Instagram que não podia dar. Estava em negação por acreditar cegamente que, ao mínimo milímetro de inactividade, estava a falhar com os animais. Acreditava que atingir uma certa quantidade de gostos era fulcral e que tal tanto espelhava a qualidade do meu trabalho como o quanto eu tinha conseguido divulgar sobre a causa. Estava presa numa teia de insanidade que eu própria originei.
Outra situação que alimentava ainda mais todas estas camadas danosas era o formato curto das descrições, que me forçava a encafuar dizeres tão complexos em meia dúzia de linhas. Não poder escrever sem limite de caracteres frustrava-me imenso.
A fragilidade da minha saúde mental devorava compulsivamente toda esta nuvem de veneno e, aos poucos, compreendi que não podia continuar mais. Tinha deixado de ser eu: sentia-me um autómato frio e metálico em vez de uma coisa orgânica, feita de carne e sonhos, e isso provocou muitas feridas.
Vivemos num momento em que privilegiamos conteúdo dinâmico mas que seja o mais compactado possível, para simplesmente o mastigarmos e descartamos ao fim de dois minutos. Textos longos são a total antítese de tudo isso e, consequentemente, a resistência aos blogues é enorme. Quando parei de postar no Instagram (ainda permaneci nos stories, mas em vão) as visitas por aqui caíram a pique: de início foi chocante, já que estava habituada a receber milhares de visualizações diárias, e cheguei a considerar voltar a passar raiva no Instagram, mas o desejo de escrever sobre os direitos dos animais com a devida atenção que merece, de desenvolver argumentos e de produzir artigos com qualidade não mo permitiu e ainda bem. E, maiormente, ser incapaz de conciliar a vida pessoal com toda esta azáfama tecnológica também não mo permitiu,
e ainda bem.
Assim, com esta mudança o meu trabalho deixou de ficar fragmentado, abrindo o espaço que eu necessitava para voltar ao conceito inicial do blogue – textos mais reflexivos e teóricos sobre ética animal. Foi uma peça fundamental que acabou por ficar olvidada e não pretendo repetir esse erro.
Poder respirar fundo e utilizar as horas que despendia em publicações do Instagram para atender as minhas novas responsabilidades foi crucial para a cicatrização das sevícias emocionais. Ter optado por ficar exclusivamente com o blogue e saber que, nele, posso escrever à vontade tirou uma carga monstruosa dos meus ombros. Sim, vou deixar (na verdade já deixei) de ter inúmeras leitoras mas, depois de olhar para a situação num todo, aceitei que esse sacrifício, além de inevitável, é necessário. Finalmente estou genuinamente feliz e, para mim, essa alegria passou a ser mais relevante do que números.
A todas as pessoas que me liam e pararam de o fazer; a quem seguia o meu trabalho somente pelo Instagram e, por isso, deixou de acompanhar; a quem ainda me acompanha: com todas as artérias do meu coração, agradeço a cada uma de vós. Ideias e projectos estão a fermentar na minha cabeça e espero partilhá-los, quiçá, num futuro próximo e quando o tempo for suficientemente livre para o conceder ♥
Se tivesse de escolher uma palavra para definir a Saponina seria cuidado: desde os ingredientes à estética minimalista e delicada, é impossível não reparar na dedicação que a Liliana tem, com gosto genuíno, no seu trabalho. Recordo-me quando conheci a Saponina há uns bons anos: na altura, a Liliana ainda só fazia velas perfumadas, saquinhos terapêuticos (com arroz e lavanda que, quando aquecidos ou arrefecidos, ajudam nas dores de cabeça, menstruais, etc.) e pouco mais. De longe fui acompanhando o crescimento do seu catálogo que, agora, conta com uma quantidade generosa de cosméticos, incluindo uma linha para bebés – que descobri, precisamente, por andar à procura de produtos para a minha bebé que fossem mais ecológicos. E que descoberta feliz esta ♡
publicado em
Bárbara. Uma força da natureza. Livro aberto, coração resiliente. Mãe fera, mãe colo. Que se abre, inteira e infinita, num abraço que carrega três amores. Alma livre, inspiradora, por remar contra a maré das tradições que continuam a legitimar violências várias – desde o pequeno animal humano ao animal não-humano maior. Obviamente que ela não podia ficar de fora desta rubrica — caso contrário ficaria uma sensação de algo incompleto — e, assim como eu, espero que adorem cada palavra que ela aqui partilhou ♥
Fala um bocadinho de ti.
Chamo-me Bárbara, sou mulher fascinada pela vida, mãe maravilhada de 3 filhos veganos (11, 5 e 3 anos) e namorada apaixonada pelo homem que caminha a meu lado. Sou, enfim, uma mulher rendida aos sentimentos incríveis que se experimentam no turbilhão duma família recheada.
Sou licenciada em Psicologia, mas actualmente prefiro mergulhar nos assuntos da saúde física, especialmente na sua associação com a alimentação e o estilo de vida. Sou autora dos livros Lexy, o menino vegano e Onde está a proteína? e descobri uma paixão pelo desporto aos 43 anos: a musculação. A vida é cheia de descobertas boas.
Quando te tornaste vegana? Quais foram os motivos principais?
Tornei-me vegana em 2009. Já tinha deixado de comer animais em 1999 depois de ter visto um documentário sobre a exploração de animais em diversas áreas. Aquilo abanou o meu mundo: chorei durante semanas sempre que me lembrava, como pude eu estar adormecida tanto tempo?
Mas, de 99 a 2009, embora tivesse longos períodos como vegana, acabava por ceder às tentações do queijo: na altura não existiam queijos veganos, senão teria sido muito mais rápido. Se compararmos as opções veganas de hoje com as que existiam naquela década, é absurdo. Quando me tornei ovolactovegetariana só existia soja desidratada e uns burgers que sabiam muito mal, hahaha. Eu sabia que animais não comeria mais mas o queijo foi realmente difícil; está provado que ele é, de facto, aditivo. Mas consegui, hoje sinto zero falta.
Como foi a tua alimentação durante as tuas gravidezes? Que cuidados tiveste?
Tive mais cuidados a nível de suplementação: reforcei iodo, B12, vitamina D3, K2, os ómegas. Tentava ser constante, pois, sabia que era importante ter bons valores, tanto para a gravidez como depois para amamentar (ainda amamento em tandem os dois mais novos). Também reforcei alimentos ricos em ferro, especialmente no segundo trimestre. Durante a gravidez e o aleitamento ingiro também mais calorias do que fora desse período, claro, tendo cuidado para ingerir alimentos variados, como vegetais, frutas, sementes, frutos secos, cereais, dando preferência aos que não têm glúten, super alimentos, etc.
Arte de Catie Atkinson
Como é a alimentação em casa? Quais são as refeições preferidas dos teus filhos?
É uma alimentação variada, tentando que seja a maioria do tempo bem saudável, mas também com alguns ‘pecados’ veganos de vez em quando. Não deixamos de comer as nossas pizzas, bolos, gelados! A preferida do Lexy é lasanha caseira, a do Leonardo são couves, grelos, brócolos, ele delira com isso a qualquer hora do dia. O mais novo gosta muito de batidos com frutas, mas também adora uma coisa um pouco menos saudável mas que tenho de esconder no frigorífico para ele não estar sempre a pedir: vuna (aquela imitação de atum).
Como mãe de três crianças, como lidas com o especismo do dia-a-dia? E como é que as tuas crianças reagem a ele?
Já são tantos anos disto, que honestamente quase já não é assunto. Mas já foi. Na primeira gravidez tive de ouvir coisas como “Estás a por a vida do teu bebé em risco com essa alimentação” e depois dele nascer, “Não vais ter leite nenhum”.
Mas sabes, quando aos 6 meses fui à pesagem e o médico disse “Ele está mesmo gordinho e saudável, andas-lhe a dar papas, não?” e eu respondi “Não, é mesmo só o meu leite”, ele mudou a sua perspectiva sobre esta alimentação, dizendo coisas como “Eu nunca vi um leite tão nutritivo como o teu, de facto a alimentação vegana tem tudo”. Não foram necessárias discussões: eles foram o exemplo vivo de que é possível ter uma gravidez saudável, filhos saudáveis e amamentação prolongada com uma alimentação plant based.
O teu filho mais velho foi a tua inspiração principal para o teu livro infantil “Lexy, o Menino Vegano”. Quando decidiste escrever o livro, qual foi o teu principal objectivo? Irás escrever mais livros infantis sobre veganismo futuramente?
A ideia para o livro começou em 2015; lancei o livro em 2016. O meu filho estava a crescer e não havia um só livro em português sobre veganismo na altura para lhe mostrar: encomendei um livro dos Estados Unidos mas ele era focado no mal estar dos animais. Eu queria falar do assunto duma forma leve, divertida, uma personagem com quem ele se identificasse, pois era o único vegano na sua escola. E na verdade foi um grande sucesso por isso, porque muitas famílias não veganas viram no livro Lexy, o menino vegano uma ferramenta boa para apresentar o assunto aos filhos. Também nas escolas foi e ainda é muitas vezes debatido com as crianças. Fiz algumas apresentações em escolas e todas foram de muito sucesso.
E sim, estou a escrever um novo livro infantil no momento que espero lançar ainda este ano!!
Partilhas conteúdo sobre maternidade. Achas que as mães estão apagadas dentro do movimento vegano? O que podemos e dever fazer para as mães terem mais voz e espaço no veganismo?
É assim, como eu sigo várias mães veganas, não vejo esse apagamento que referes, mas talvez sim, talvez fosse importante mais mães falarem da sua maternidade vegana para desfazer tantos medos e mitos que ainda existem. Devíamos ver mais entrevistas, mais debates, mais páginas voltadas para a maternidade vegana, para que se banalize o assunto, já que é uma forma de alimentação e de vida cada vez mais comum.
Arte de Katie M. Berggren
Também partilhas sobre criação com apego e a importância de respeitar as crianças, ambas um pouco distantes da educação infantil padrão. A teu ver, já há alguma mudança geral nesse aspecto ou ainda muita resistência? Como podemos mostrar às pessoas adultas que a criação com apego não é ‘estragar’ as crianças e sim um passo fundamental para quebrar um ciclo de violência infantil que se perpetua há gerações?
Sem dúvida que existem mudanças, mas ainda há muito terreno para andar. Infelizmente não à velocidade ideal, mas estamos melhor do que estávamos na minha infância ou na tua, com certeza. Ainda vemos que sempre que alguém lança uma conversa sobre colo, sono acompanhado, amamentação, há resistência, há sempre alguém que fala na independência dos pequenos e no excesso de mimo. Tão longe da verdade, pois o apego leva à segurança e futura independência. Ou, sempre que alguém fala contra as palmadas há muita discussão, acredito que por muita culpa materna/paterna, pois é mais fácil esconder numa desculpa do que admitir erros e agir. Todos cometemos erros. Eu cometi imensos, mas o importante é a consciência imediata desses erros, o desejo de mudar e a acção para mudar.
Não aceito o conformismo, não aceito que simplesmente desistamos de ser melhores para os nossos filhos. Haverá luta mais importante de que esta? Do que fazermos o melhor para criarmos crianças felizes, seguras, protegidas, acarinhadas, respeitadas, que se tornarão um dia líderes, médicos, activistas, professores? Não me parece que haja algo mais importante para o futuro do que isto. Oferecer amor para ver amor no mundo.
Por fim, queres deixar uma mensagem para mães que são criticadas e/ou desincentivadas por serem veganas e criarem as suas crianças de acordo com os seus valores?
O meu conselho é: estejam informadas e seguras das vossas opções. Quando estão seguras, essas críticas e tentativas de desmotivação não têm impacto em vocês. Eu, por mais que tenha ouvido todo o tipo de presságio sobre a gravidez, amamentação, crescimento dos meus filhos, mantive-me firme, pois sabia que estava a trilhar o nosso melhor caminho. Sabia que aquelas vozes que me tentavam melindrar nasciam da ignorância sobre este assunto. Porque deveria eu ficar medrosa ou recuar, quando sabia que quem me alertava não tinha qualquer conhecimento sobre este assunto em concreto? Estudem, leiam muito sobre alimentação (sempre, toda a vida, há sempre muito a aprender!), sigam mães veganas, fortaleçam os vossos passos, para que a vossa voz grite sempre mais alto do que todas as outras. ■
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