
Lembro-me de, em pequena, ficar embasbacada com a fila interminável de pequenas formigas negras: achava-as extremamente organizadas, bastante educadas (pensava que cumprimentavam-se quando roçavam as antenas umas nas outras) e inquestionavelmente fortes (uma vez deixei cair um pedacinho de melão no chão e elas conseguiram carregá-lo em três tempos).
A beleza de ver estes cativantes animais contrastava com o que os adultos faziam quando chegava o Verão: pulverizavam um pó branco, violento, em cima delas quando ficavam próximas das portas ou quando já entravam dentro das casas. Era perfeitamente visível que os pequenos insectos agonizavam, ao mesmo tempo que o seu espírito guerreiro tentava desenvencilhar-se daquela espuma tóxica. Era uma coisa terrível de se ver e, o mais irónico, a culpa principal era precisamente de quem as matava: tinham roseiras, orquídeas, passifloras e outras plantas que, naturalmente, atraíam formigas. Como criança, achava aquilo tudo sem sentido e cruel. Como adulta, continuo a achar a mesma coisa.