24/06/2017

Leite de vaca, alimentação infantil e informação tendenciosa


Por coincidência, ou talvez não, o aumento do veganismo tem gerado inúmeros “estudos” que procuram problematizá-lo, criando desvantagens, obstáculos e doenças que não existem. Um desses estudos, que foi publicado recentemente pela Revista Superinteressante, anuncia que as crianças que consomem leites vegetais são mais baixas em comparação com as que consomem leite de vaca. De acordo com o mesmo, “após analisarem 5034 meninos e meninas de 2 a 6 anos de idade, os especialistas notaram que a diferença de altura de uma criança de 3 anos que tomava três copos de bebida vegetal para outra da mesma idade que bebia três copos de leite de vaca era de 1,5 centímetros”.

O artigo continua com a questão do cálcio para um correcto desenvolvimento infantil, comparando o leite de vaca com arroz e nozes e rematando que o primeiro tem mais cálcio dos que os últimos. Esqueceram-se foi de referir que existem mais alimentos ricos em cálcio e que o leite está cheio de pus e hormonas, mas a Julia Harger do Vegana é a sua mãe esmiuçou o artigo até à última centelha e tratou de desmascará-lo como só ela consegue fazer. Obrigada Julia, por dares um chapadão de luva branca ao sensacionalismo bacoco patrocinado pelos interesses da indústria dos lacticínios. Vale realçar que a Julia tem uma filha lindíssima, a Domi, que transpira vitalidade e não consome quaisquer alimentos de origem animal, revelando que é possível criar crianças felizes e saudáveis sem explorar e matar seres sencientes.

«A Revista Superinteressante publicou uma pesquisa do St Michael Hospital que mostra que Crianças que tomam leites vegetais são menores. Fui acessar a pesquisa para entender melhor e saber o quão confiável ela é.

Com todo meu respeito, o título omite uma informação bem importante, pois ele diz Crianças que tomam leites vegetais são menores e o correto seria Crianças que não tomam leite de vaca pois entre as crianças que segundo a pesquisa estão incluídas no grupo das mais baixas, estão aquelas que consomem todos tipos de leites alternativos, incluindo leites de cabra e outros animais. Cabra não é um vegetal.

A pesquisa foi um estudo transversal. Isso significa que ela examinou as relações apenas em um ponto durante um tempo – geralmente esse tipo de estudo possui evidências fracas. Essa pesquisa especificamente não providenciou qualquer informação sobre a dieta dessas crianças e também não falou nada sobre qual tipo de leite elas estavam tomando (essa informação é bem importante, visto que a variedade de leites alternativos é imensa e também a sua diversidade em nutrientes).

A hipótese apresentada foi que essa diferença no crescimento foi devido ao consumo de pouca proteína, portanto analisar toda a dieta da criança e também o tipo de leite que cada uma consumia seria crucial para verificar a quantidade de proteína que estariam consumindo. CRUCIAL!

Mesmo que realmente fosse confirmado que leite de vaca aumenta o crescimento de altura de uma criança, isso é irrelevante a menos que discutido no contexto de saúde: ser mais alto significa necessariamente ser mais saudável? Ademais, será que esse crescimento provocado pelo leite de vaca não estaria sendo alcançado além do que naturalmente alcançariam sem consumir os hormônios contidos no leite de vaca? Hormônio faz crescer.

Também pensando, vale mesmo se preocupar com o pouco consumo de calorias na infância? Nosso contexto é de crianças consumindo calorias, gorduras, açúcares e proteínas em excesso, bem como é o caso da situação norte-americana onde a pesquisa foi conduzida. Deixo a reflexão.

Também gostaria de apontar que o pesquisador que conduziu o estudo, Dr. Jonathon Maguire(1), já fez outras pesquisas falando beneficamente sobre o leite de vaca. Também conduziu um estudo sobre a associação entre a amamentação prolongada e o aparecimento de cáries em crianças onde ele aponta que sim, crianças que mamam até mais tarde são mais propensas a ter cárie. Esse tipo de estudo e informação tendenciosa contribui para a desinformação e preconceito sobre amamentação prolongada, o que a gente luta tanto contra. Além de que estudos mais recentes no site da Associação Australiana de Amamentação encontraram que amamentação pode na realidade proteger dentes de cáries por causa dos anticorpos, que impedem a reprodução das bactérias na boca.

Concluindo: esse estudo foi um prato cheio para fazer uma notícia sensacionalista, mas não passa de uma pesquisa conduzida por alguém altamente parcial em suas opiniões.»

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(1) Para além de ter escrito sobre a importância do leite de vaca na alimentação infantil, ao mesmo tempo que acusa a amamentação natural de transformar as bocas das crianças em cavernas cariadas, Jonathon Maguire recebeu $90.000 da Dairy Farmers of Canada pela publicação da sua pesquisa sobre não se tomar leite de vaca na infância, relacionada com deficiência de vitamina D e risco de fracturas. Podem confirmar esse pagamento aqui, na página 3, quinto parágrafo da primeira coluna. Outro pormenor a ter em conta é o site da sua organização, TARGet Kids!, onde ele tem na sua lista de apoiantes a Dairy Farmers of Ontario e a Danone (aqui).