18/11/2020

Maternidade vegana com a Sarah Lavagnoli 💛 Casa da Mãe Vegana


A natureza humana é compassiva e as crianças são prova disso. Quando deixamos que uma criança seja ela própria, muito dificilmente quererá maltratar e, muito menos, matar um animal. Quando lhes perguntamos se os animais sejam cães, porcos, peixes são amigos ou comida, é certo que vão responder que são amigos. E, no entanto, acusamos as mães e os pais de forçar um estilo de vida nos seus filhos quando a alimentação é coerente com aquilo que as crianças acreditam e defendem.
A Luna é filha da Sarah e mostrou desde cedo, por vontade própria, que não quer fazer mal aos animais e que, por isso, não os quer comer. Ambas são incríveis e inspiradoras, pelo que era inevitável pedir à Sarah para que partilhasse o seu testemunho e as suas experiências, de modo a desmantelar um pouco mais a ideia tendenciosa de que as crianças não podem ter uma alimentação sem crueldade.


Fala um bocadinho de ti e da tua página.

Estar rodeada de pessoas envolve não só o meu trabalho como a minha forma de ser. Quando partilho a minha realidade de mãe e vegana gera muita curiosidade nas pessoas, sendo elas veganas ou não. Muitas não acreditam ser possível nascer e crescer tendo uma alimentação vegetariana estrita, outras gostam de saber mais sobre a prova viva. Por isso surgiu-me esta vontade de criar uma página em relação à maternidade vegana, para compartilhar as minhas experiências e informações que possam ajudar outras mães e pais a iniciarem e manterem este estilo de vida. 


Quando te tornaste vegana? Quais foram os motivos principais? 

Em abril de 2014. Já era ovolactovegetariana desde 2011 pelos animais e quando descobri como funciona a indústria do leite e dos ovos me tornei vegana pelo mesmo motivo. 


Como foi a tua alimentação durante a gravidez? Que cuidados tiveste?

Antes de engravidar preocupava-me mais com produtos que imitavam os produtos não-veganos que consumia antes de me tornar vegana: procurava sabores e hábitos semelhantes aos que tinha antes, sem me preocupar muito com o equilíbrio dos alimentos. Na gravidez mudei a minha perspectiva e comecei a ler mais sobre alimentação vegana saudável, dando prioridade a alimentos naturais e não industrializados como leguminosas, cereais, vegetais, sementes e frutas


Quais são os produtos cruelty-free que mais gostas e que aconselhas para as pré-mamãs, bebés e crianças com a idade da Luna? 

Desde sempre, incluindo na gravidez e nascimento, usei óleo de coco. Nunca passei pomada de assadura: aconteceu poucas vezes irritações e quando acontecia aplicava óleo de coco e passava. Para lavar o cabelo no banho usava sabões naturais locais
Hoje, com 5 anos, usamos produtos de cabelo da Lola Cosmetics para cabelos encaracolados. 


Arte de Claudia Tremblay

A Luna já frequenta a escola. Como foi a adaptação a nível geral?

Quando iniciou na creche não pública levávamos as refeições de casa. Para isso ser possível precisámos de um papel assinado pela médica de família, a dizer que a família se responsabiliza pela alimentação e pela saúde da criança.
A minha preocupação inicial era a Luna se sentir desconfortável por ser a única a comer refeições diferentes na escola e por levar de casa, mas a realidade deixou-me muito tranquila! As educadoras tiveram que ensiná-la a não deixar os colegas tirarem comida de seu prato, senão ficaria sem almoçar. Todos ficavam curiosos com as marmitas da Luna e queriam experimentar: comentavam que cheirava bem e até as educadoras elogiavam o cheiro e o aspecto. Foi tudo muito fácil e não houve constrangimentos. 
Este ano a Luna iniciou o pré-escolar e segundo a Lei nº 11/2017 é obrigatória a disponibilização de menus vegetarianos estritos em cantinas e refeitórios públicos. As crianças têm direito ao pequeno-almoço, almoço e lanche da tarde e se há pedido para vegetariano estrito eles fazem gratuitamente ou com um preço simbólico dependendo do escalão em que a família se encontra.
No nosso caso comemos o pequeno-almoço em casa, a Luna almoça na escola e leva um lanche mais nutritivo para a tarde.

Costumes especistas continuam a ser incutidos em ambiente escolar, tanto nos manuais como em visitas de estudo a oceanários e jardins zoológicos. Como é que lidas/pensas lidar com essas situações? 

Para todos estes eventos é preciso a assinatura dos pais para a escola poder levar as crianças. Eu sempre assino que não autorizo, obviamente. Como sabemos, veganismo é mais do que uma dieta e tudo que envolva exploração e abuso animal nós não participamos de forma alguma.


A teu ver, como devemos abordar o veganismo às crianças?

Com muito amor. Sem julgamentos e sem imposições.
Quando a Luna me perguntou o porquê de sermos veganas com 2 anos de idade, eu respondi que é pelo amor aos animais. Mostrei os animais habituais de consumo e disse que não há comparação com os cães e gatos que temos em casa e se nós não vamos comer os cães e gatos porque os amamos, também não iremos comer outros. Ela percebeu perfeitamente e concorda. É muito fácil uma criança perceber isso, faz parte da nossa natureza.
Quando me pergunta o porquê das outras pessoas comerem os animais, eu digo que é porque as pessoas não sabem que os animais amam e sentem. Explico que as outras pessoas não são más, só não sabem que não precisam comer animais para serem saudáveis e felizes e, em sequência disto, diz-me: Quando eu for grande eu vou dizer a toda gente que não precisam comer os animais, nunca mais! Só pode fazer festinhas!”