12/03/2019

Dieta vegetariana é a mais eficaz a diminuir o risco de diabetes tipo 2


Dietas de base vegetal saudáveis são as mais eficazes a diminuir o risco de diabetes tipo 2. Carne vermelha e de aves são os alimentos que mais aumentam o risco da doença.

Um dos mais importantes factores de risco para a diabetes tipo 2 é a dieta. Para esse risco, mais importante do que os efeitos de alimentos individuais são os efeitos sinérgicos entre os vários alimentos consumidos em simultâneo. Nesse sentido, estudar os padrões alimentares e os seus efeitos para a saúde é fundamental.

Existem 5 padrões alimentares pré-determinados que têm sido estudados: aMED (dieta mediterrânica alternativa); AHEI-2010 (Índice Alternativo de Alimentação Saudável); DASH (abordagens dietéticas para travar a hipertensão); PDI (índice de dieta de base vegetal); hPDI (índice de dieta de base vegetal saudável). Todos estes padrões alimentares centram-se predominantemente em produtos de origem vegetal, incluindo cereais integrais, vegetais, frutos, oleaginosas e leguminosas, sendo pobres em carne vermelha e bebidas açucaradas. São considerados padrões alimentares de alta qualidade e estão associados a uma diminuição do risco de doenças crónicas como doenças cardiovasculares e diabetes.

Para perceber a relação entre estes padrões alimentares e o risco de diabetes, um novo estudo acompanhou 45511 participantes asiáticos ao longo de 11 anos. Todos os 5 padrões alimentares estiveram associados a uma diminuição entre 16 e 29% do risco de diabetes, sendo que essa redução foi inferior entre os fumadores.

Ao serem analisados os componentes individuais das dietas, foram observados as seguintes associações:

• Por cada porção diária de cereais integrais houve uma diminuição de 7% no risco de diabetes tipo 2;
• Por cada porção diária de carne vermelha e processada houve um aumento de 29% no risco de diabetes tipo 2;
• Por cada porção diária de bebidas açucaradas e sumos de fruta combinados houve um aumento de 11% no risco de diabetes tipo 2;
• Por cada duas chávenas diárias de café, houve uma diminuição de 6% no risco de diabetes tipo 2.

Outro estudo relacionado com este mostrou também não só a importância da qualidade dos alimentos no risco de diabetes, nomeadamente a importância de se substituir os cereais refinados por integrais, assim como o facto da carne vermelha mas também de aves serem um dos principais factores de risco para a doença, mesmo comparativamente com o arroz branco, muito consumido nos países orientais. O estudo mostrou que:

• Substituir arroz branco por carne vermelha esteve associado a um risco 40% superior de diabetes tipo 2;
• Substituir arroz branco por aves esteve associado a um risco 37% superior de diabetes tipo 2;
• Substituir arroz branco por noodles esteve associado a um risco 14% superior de diabetes tipo 2;
• Substituir arroz branco por pão integral esteve associado a um risco 18% inferior de diabetes tipo 2.

A diabetes tipo 2 é uma das doenças crónicas mais comuns em todo o mundo, tendo o número de casos quadruplicado entre 1980 (108 milhões de casos) e 2014 (422 milhões). Caso a tendência se mantenha, estima-se esses números aumentem para 624 milhões em 2040.

Alguns dos componentes da alimentação que contribuem para o risco de diabetes são a carne vermelha e de aves. Essa associação poderá ser mediada em parte no caso das carnes vermelhas e totalmente no caso das aves pela ingestão de ferro heme presente nessas carnes.

Um estudo anterior que incluiu no total 149143 homens e mulheres a partir de 3 estudos prospetivos, mostrou que por cada ½ porção por dia de carne vermelha adicional, houve um risco 48% superior de DT2.

Por outro lado, vários estudos sugerem que uma dieta de base vegetal está associada a uma diminuição do risco de diabetes. A análise conjunta a 3 estudos prospectivos com 200727 participantes no total mostrou que aqueles com índices de dieta de base vegetal superiores tiveram um risco inferior de diabetes tipo 2: diminuição de 20% no caso de PDI (dietas de base vegetal) e 34% no caso de hPDI (dietas de base vegetal saudáveis).

Dentro das dietas de base vegetal, a dieta vegana parece ser aquela que mais diminui o risco da doença. Um estudo prospectivo com 41387 participantes mostrou que uma dieta ovo-lacto-vegetariano esteve associada a uma diminuição de 38% no risco de diabetes tipo 2 e uma dieta vegana esteve associada a um risco 62% inferior da doença.

Um estudo prospectivo que acompanhou 55465 participantes ao longo de 15 anos mostrou que consumir pelo menos 50 g/dia de cereais integrais poderá estar associado a uma diminuição de 34% no risco de diabetes tipo 2 no caso dos homens e 22% no caso das mulheres.

Por outro lado, de acordo com o estudo PREDIMED, um consumo frequente de leguminosas, especialmente lentilhas, no contexto de uma dieta mediterrânica, pode diminuir o risco de diabetes em adultos com risco de doença cardiovascular.

Um estudo clínico recente com 298 participantes com diabetes tipo 2 mostrou que um programa de perda de peso foi capaz de reverter diabetes tipo 2 ao fim de 1 ano. Ao fim de 1 ano, cerca de ¼ dos participantes tinha perdido 15 kg ou mais de peso e cerca de ½ (46%) conseguiu reverter a doença. Além disso houve também melhorias nos níveis de triglicéridos e cerca de metade permaneceu sem utilizar medicamentos para diminuir a pressão arterial.

De acordo com os dados que temos, uma dieta de base vegetal, em especial vegana, rica em vegetais, frutos, leguminosas, cereais integrais, frutos secos e sementes, poderá ser eficaz a diminuir o risco de diabetes tipo 2, ou mesmo reverter a doença.

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Sobre o autor: Gabriel Mateus é fundador e presidente do Projeto Safira, uma Associação sem fins lucrativos que presta apoio a doentes oncológicos e promove acções de esclarecimento sobre prevenção do cancro e promoção da saúde. É mestre em Nutrição Clínica (Instituto Superior de Ciências da Saúde Egas Moniz) e tirou um curso prático de Nutrição e Dietética (Instituto Profissional de Estudos da Saúde). Também tem uma licenciatura em Ciência das Religiões (Universidade Lusófona), um mestrado em Esoterismo Ocidental (Universidade de Exeter) e ocasionalmente dá aulas na Universidade Lusófona.