12/02/2019

6 Marcas que NÃO SÃO cruelty-free (mas a maioria pensa que são)


E aqui estamos nós novamente com mais uma listinha de marcas que pensamos ser cruelty-free mas que, na verdade, não são. Muitas marcas dizem-se cruelty-free e até utilizam indevidamente o símbolo do coelhinho, quando na realidade estão envolvidas em testes cruéis e desnecessários (seja directa ou indirectamente).

Recapitulando, para uma marca poder ser considerada cruelty-free, precisa de cumprir estes critérios:

A empresa não testa os seus produtos e ingredientes em animais;
A empresa não pede ou permite que terceiros testem os seus produtos e ingredientes em animais;
Os fornecedores da empresa não testam em animais;
A empresa não vende em regiões que, ao abrigo da lei, exigem testes em animais.

Nota de actualização (03/01/2024): Para a lista ficar mais completa, foram acrescentados os prints das declarações das marcas apresentadas, bem como as respectivas traduções e outros materiais considerados relevantes.


1. YOUNIQUE

Coloquei a Younique em primeiro lugar nesta lista por uma simples razão: toda a sua história sobre ser cruelty-free está muito mal contada. Gostam de novelas mexicanas? Sentem-se e apreciem.

Antes, a marca tinha uma declaração sobre este assunto no site, que foi registada pela Vicky do Ethical Elephant.

A Younique não testa os seus produtos em animais. Estamos no processo de explorar/obter por uma certificação oficial como empresa cruelty-free. No entanto, até ao momento, a Younique não fez uma revisão profunda e livre de crueldade, rastreando cada ingrediente até à fonte original desse ingrediente.

Actualmente, não aparece absolutamente nada sobre testes em animais no site da Younique. Veja-se que a afirmação outrora partilhada faz com que a marca não seja cruelty-free, por falhar ao não certificar se as matérias-primas são, ou não, testadas em animais.

Como a publicação da Vicky é de 2015 e foi actualizada em 2016, contactei a Younique para averiguar sobre a sua política actual. A resposta foi esta:

Younique does not test our products on animals, nor do any of our product manufacturers. We ship to the entire territory of Hong Kong but are not currently opened in other parts of Asia. (A Younique não testa os seus produtos em animais, nem qualquer um dos nossos fabricantes. Nós enviamos para todo o território de Hong Kong, mas actualmente não estamos abertos em outras partes da Ásia.)

Como também perguntei sobre os fornecedores, voltei a abordá-los e aproveitei para saber se fazem uma revisão minuciosa dos ingredientes originais, para garantirem que são cruelty-free ou não:

Although Younique does not test its products on animals and is confident that its product manufacturers do not conduct such tests, we have not pursued formal certification at this time. (Embora a Younique não teste os seus produtos em animais e esteja confiante de que os seus fabricantes dos seus produtos não realizam tais testes, não buscamos a certificação formal no momento.)

Basicamente, não responderam à minha pergunta. Questionei-os sobre os fornecedores e não sobre os fabricantes. Quanto ao escrutínio aos ingredientes originais, nem um pio. E, já agora, não basta confiar que os fabricantes não testam em animais: convém que estes o comprovem.

Esta não-resposta, juntamente com a extinção da declaração sobre os testes em animais no site, suscitou desconfiança. Decidi fazer mais algumas pesquisas e encontrei um artigo de 2018 da Elle Beau, o qual oferece mais detalhes sobre a Younique. A procura pela certificação oficial cruelty-free começou em 2013 e, pelos vistos, foi deixada na gaveta. O mesmo artigo também frisa que a companhia não gosta de ser confrontada publicamente com esta questão, preferindo bloquear pessoas ou desactivar comentários.

Outro pormenor que descobri é que a Coty, uma empresa que testa em animais, adquiriu 60% da Younique em 2017. No entanto, em meados de 2019, foi anunciado o fim dessa parceria.

Em Dezembro de 2019 tornei a contactar a Younique. A resposta deles foi exactamente a mesma que me deram antes, sem tirar uma vírgula. Não insisti porque vi que não valia a pena: tentar dialogar com empresas MMN é uma dor de cabeça e não recomendo.

Em poucas palavras, a Younique é incapaz de confirmar se é realmente cruelty-free, preferindo manter uma postura pouco transparente e causadora de muitas dúvidas. Todos esses maus sinais levam-me a não indicá-la.


2. NARS

A NARS chegou a ser uma das marcas de maquilhagem de luxo cruelty-free mais apreciadas. Tudo isso mudou quando passou a vender na China, cuja lei obriga que os cosméticos estrangeiros sejam testados em animais. No Instagram foram muitos os que se indignaram, mas não foi o suficiente para a NARS mudar de ideias.
Declaração da NARS no seu site. {fonte}
A NARS não testa em animais e não pede a outros que o façam em seu nome, excepto quando requerido por lei. A NARS está a trabalhar activamente com a indústria e outros parceiros para eliminar globalmente os testes em animais, estando comprometida com o desenvolvimento e aceitação de métodos alternativos.

Dizer que está a trabalhar contra os testes em animais ao mesmo tempo que vende num país que exige esses testes é de uma desonestidade brutal, mas admitir que o lucro está acima da ética não é lá muito conveniente. Mas é esta a realidade, até porque o mercado cosmético na China vale 26 biliões de dólares.

ARTIGO: A NARS não é cruelty-free

3. ISDIN

Esta marca espanhola de cosmética e higiene aparenta ser cruelty-free precisamente pela declaração no seu site oficial em relação aos testes em animais:

Declaração da Isdin no seu site. {fonte}
Todos os produtos cosméticos da ISDIN respeitam as políticas europeias relacionadas com testes em animais. A legislação europeia (...) proíbe testes ou experimentações em animais, incluindo os ingredientes, as combinações de ingredientes e o produto final. Na ISDIN a nossa filosofia inclui promover [essa conduta] cruelty-free.

Notícia sobre o sucesso de vendas de protectores solares da Isdin na China. {fonte}

Todavia, uma pesquisa mais pormenorizada denuncia que essa filosofia não está a ser muito bem promovida por parte da marca: desde 2015, a mesma comercializa fisicamente na China, cujos testes em animais continuam a ser praticados. Assim, a Isdin não é cruelty-free.


4. SEPHORA COLLECTION

Por cá, as lojas da Sephora já apresentam algumas marcas não testadas em animais, como a beautyblender, Zoeva e Anastasia Beverly Hills. No entanto, a sua marca própria não é cruelty-free por estar comercialmente estabelecida na China.

A Sephora assinalada como não sendo cruelty-free no banco de dados da PETA. {fonte}

Como se não bastasse a Sephora pertence à LVMH, uma empresa crudelíssima com animais em vários níveis. Saibam mais aqui.


5. BIO OIL

O óleo anti-estrias mais famoso do mundo é continuamente divulgado por bloggers de beleza como não sendo testado em animais. A falta de informação detalhada no site da marca e no site da empresa, a Union Swiss, contribui ainda mais para este equívoco, mas a verdade é que o Bio Oil é vendido na China, não sendo por isso cruelty-free.


Parte da resposta da Union Swiss: O Bio-Oil e as suas matérias-primas constituintes são fabricados de acordo com os regulamentos da UE relativos a ensaios em animais para fins cosméticos (...).
No entanto, reconhecemos que o Bio-Oil está disponível na China, onde as autoridades reguladoras são conhecidas por realizar testes em animais, quando necessário, a fim de satisfazer os seus próprios requisitos de registo legislados. (...)


6. GARNIER

Recentemente, pouco antes desta actualização, a Garnier foi massivamente anunciada como cruelty-free e conseguiu o selo da Leaping Bunny: assim como outras marcas de grandes multinacionais que testam em animais, a Garnier é mais um espelho do crescimento do greenwashing e do veganwashing, com a única intenção de conquistar lucro enquanto a empresa à qual pertence, a L'Oréal, continua ligada a testes em animais.

Declaração da L'Oréal no seu site português. {fonte}

Ao longo da declaração a L'Oréal refere os seus esforços na luta contra os testes em animais, nas alternativas que tem desenvolvido e que está presente na China precisamente “para trabalhar ao lado das autoridades e dos cientistas chineses”. No entanto:

• Não é preciso vender na China para trabalhar com as autoridades desse país;
• A L'Oréal não garante que os seus fornecedores de matérias-primas não testam em animais  ou seja, mesmo que não estivesse estabelecida na China continuaria a não ser cruelty-free;
• A L'Oréal diz-se comprometida a parar totalmente com os testes em animais desde 1989, quando continua a ignorar a questão supracitada e vende num país que requer testes em animais.

Posto isto, ao comprarmos produtos da Garnier todo o nosso dinheiro vai para a sua empresa-mãe, que prefere florear as suas práticas em vez de terminar definitivamente com elas.

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Vejam as outras marcas que pensamos ser cruelty-free mas não o são aqui e aqui.

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Artigo actualizado em 11/03/2021