03/01/2015

Nos bastidores da violência: A pega (parte I)


Momentos pré-pega para os bovinos:

• Transporte ganadaria-praça, que lhes causa muito stress e os faz perder muito peso;
• Embolação, que inclui o corte e limagem dos cornos sem anestesia, e os deixa ainda mais stressados e debilitados;
• Lide por cavaleiro tauromáquico que dura cerca de 10 minutos e inclui o cravar de arpões de 6 a 8 ferros/bandarilhas, e que os deixa exaustos, devido à sua fraca resistência física e às fortes hemorragias que os ferimentos provocam.

Estado dos bovinos no momento imediatamente antes da pega: assustados, feridos, febris, com dificuldades respiratórias, esgotados e à beira de um colapso.

Pega de caras:

Os peões de brega aqueles indivíduos que ao longo da lide vão saltando para a arena com uns panos cor-de-rosa e que cansam ainda mais os touros preparam o bovino para a pega, colocando-o no sítio em que o cabo (chefe) dos forcados manda, para então se dar início ao cobarde acto, no qual os intervenientes são oito homens, ou oito mulheres, que desconhecem o significado da palavra compaixão.

Um desses oito forcados provoca o touro, vociferando e batendo palmas. Os restantes, estão colocados em fila indiana, escondidos atrás daquele, para que o touro não os veja.

Enquanto o touro é instigado a investir, evidencia sinais de exaustão, medo e tristeza, como sejam: língua caída, respiração ofegante, emissão de berros, e, muitas vezes, choro. Nas touradas televisionadas, os berros são propositadamente abafados por palavras proferidas pelos comentadores de serviço e as lágrimas não são mostradas, optando-se nesses momentos pela transmissão de imagens de sorrisos de crianças inocentes ou de poses de figuras públicas que se encontram nas bancadas.

Muitos dos bovinos demonstram uma grande falta de vontade de investir. Alguns chegam a escavar a terra com uma das patas dianteiras, olhando na direcção do forcado que os provoca, talvez na esperança de que isso funcione como um aviso de investida que faça, por si só, o homem-ameaça ir-se embora dali.

Quando, finalmente, o animal corre em direcção ao homem-ameaça, este salta-lhe para a cara, conseguindo, muitas das vezes, agarrar-se ao seu pescoço ou aos seus cornos. O bovino sacode a cabeça na esperança de se ver livre daquilo, mas aparecem, de imediato, mais sete indivíduos para o imobilizar. São os chamados ajudas, um dos quais é rabejador. Este último, começa por dar vários puxões fortes ao rabo da vítima, para a destabilizar e travar, e após a imobilização, quando já não está nenhum dos seus colegas em cima dela, remata esta cena triste fazendo com que o touro se mova em círculos, para que os colegas possam abandonar o local sem correr qualquer risco de investida.

Uma variante da pega de caras: agarrar

Por diversos motivos, como o touro ser mais manso do que o desejável, ou a falta de habilidade dos forcados, quando se está a tornar difícil concretizar a pega, uma das opções de recurso, algumas vezes tomada, é o grupo, todo em molhe, atirar-se para cima do animal. Em linguagem tauromáquica, chama-se a esta cruel variante agarrar. Imagine-se o estado em que o bovino fica, com vários homens a caírem sobre os ferros terminados em arpões que tem cravados no corpo!

Vivo para os currais

Existem outras variantes da pega de caras e outros tipos de pegas, como a de cernelha, mas, por vezes, após várias tentativas falhadas, nenhuma chega a ser consumada. Quando assim é, diz-se que o touro volta vivo aos currais. Esta expressão diz tudo!

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Fotografia: Planeta dos Touros (Campo Pequeno, 26 de Agosto de 2010).

Via Marinhenses Anti-Touradas (blogue e facebook).
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